São três letras apenas,
As desse nome bendito:
Três letrinhas, nada mais...
E nelas cabe o infinito
E palavra tão pequena - confessam mesmo os ateus -
És do tamanho do céu
E apenas menor do que Deus!
Mario Quintana
Imagem ; Paula Modersohn-Becker |
MÃE
Mãe ‑ que adormente este viver dorido.
E me vele
esta noite de tal frio,
E com as
mãos piedosas até o fio
Do meu
pobre existir, meio partido...
Que me
leve consigo, adormecido,
Ao passar
pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e
lave a alma lá no rio
Da clara
luz do seu olhar querido...
Eu dava o
meu orgulho de homem – dava
Minha
estéril ciência, sem receio,
E em débil
criancinha me tornava,
Descuidada,
feliz, dócil também,
Se eu
pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu
fosses, querida, a minha mãe!
Antero de
Quental
Imagem ; Paula Modersohn-Becker |
Minha Mãe
Minha mãe,
minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo
da vida, minha mãe.
Canta a
doce cantiga que cantavas
Quando eu
corria doido ao teu regaço
Com medo
dos fantasmas do telhado.
Nina o meu
sono cheio de inquietude
Batendo de
levinho no meu braço
Que estou
com muito medo, minha mãe.
Repousa a
luz amiga dos teus olhos
Nos meus
olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor
que me espera eternamente
Para ir
embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser
que não quer e que não pode
Dá-me um
beijo na fonte dolorida
Que ela
arde de febre, minha mãe.
Aninha-me
em teu colo como outrora
Dize-me
bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em
sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os
que de há muito te esperavam
Cansados
já se foram para longe.
Perto de
ti está tua mãezinha
Teu irmão.
que o estudo adormeceu
Tuas irmãs
pisando de levinho
Para não
despertar o sono teu.
Dorme, meu
filho, dorme no meu peito
Sonha a
felicidade. Velo eu
Minha mãe,
minha mãe, eu tenho medo
Me apavora
a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta
este espaço que me prende
Afugenta o
infinito que me chama
Que eu
estou com muito medo, minha mãe.
Vinicius
de Moraes
Imagem : Brian Kershisnik |
“Teus
filhos não são teus filhos
São filhos
e filhas da vida, anelando por si própria
Vem através
de ti, mas não de ti E embora estejam contigo, a ti não pertencem.
Podes
dar-lhes amor mas não teus pensamentos,Pois que eles tem seus pensamentos
próprios.
Podes
abrigar seus corpos, mas não suas almas Pois que suas almas residem na casa do
amanhã, Que não podes visitar se quer em sonhos. Podes esforçar-te por te
parecer com eles, mas não procureis fazei-los semelhante a ti, Pois a vida não
recua, não se retarda no ontem.
Tú és o
arco do qual teus filhos, como flechas vivas, são disparados… Que a tua inclinação
na mão do Arqueiro seja para alegria.”
Khalil Gibran
Imagens: Cassandra Barney |
Pequeno
Poema
“Quando eu
nasci,
ficou tudo
como estava.
Nem homens
cortaram veias,
nem o Sol
escureceu,
nem houve
estrelas a mais…
Somente,
esquecida
das dores,
a minha
Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu
nasci,
não houve
nada de novo
senão eu.
As nuvens
não se espantaram,
não
enlouqueceu ninguém…
Pra que o
dia fosse enorme,
bastava
toda a
ternura que olhava
nos olhos
de minha Mãe…”
Sebastião da Gama
Imagem ; Paula Modersohn-Becker |
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