quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

              Mesmo que o céu não exista


"Nós somos prisioneiros do futuro e de nossos sonhos: de tanto esperar amanhãs que cantem, perdemos o único caminho real, que é o de hoje. No entanto é preciso viver e lutar: partir para o assalto ao céu, mesmo que esse céu não exista. Precisamos inventar uma sabedoria do nosso tempo."

                                                                                   André Conte-Sponville
                                                                                  

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

                                     QUERIDO AMANHÃ

Sim, dezembro chegou e já vai sem tardar. O mês das finalizações, das limpezas e das preparações para a novidade que se avizinha. Suposta data para reconciliações, reencontros, afetividades suaves, religiosidades empoeiradas e ânimos calmos; o simbólico mês da passagem para um suposto ano novo. Algumas notas sobre essa sedução em relação ao amanhã.
             O modo de contar o passar do tempo não é universal. Diferentes povos e religiões ajustam seus compassos a partir de diferentes calendários. No calendário gregoriano, estamos no ano de 2016. No calendário chinês, com seus ciclos de 12 anos, estamos em 4713. No calendário judaico, em 5776. No islâmico, em 1437.
Seja como for, partindo de qualquer mecanismo: solar, lunar e/ou histórico, o dia seguinte é esse tempo que chega/passa, limita, potencializa e/ou contamina nossos sonhos, ideias, planejamentos, forças pra fazer o novo, olhares para vislumbrar o amanhã mais sereno.
Mário Quintana trouxe poesia sobre esse olhar: “a vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal ...  Quando se vê, já terminou o ano ...  Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado...”.
Em nome do amanhã, deitamos nossas intranquilidades à espera do novo sol-guia para nossas tempestades. Alguns até vão além, trabalham com o depois-de-amanhã, afinal: “não deixe para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã”. Risos...
Em nome da ideia, a gente promete parar de fumar, dormindo com um cigarro picado na orelha. A gente promete esquecer daquela (e), deixando a (o) amada (o) como fotografia na tela de proteção do celular. A gente promete não fazer dívida, gastando o último crédito do cartão na fila da Riachuelo. A gente promete usar camisinha, quando até sem cueca se anda   deixando   o banco do passageiro do carro levemente deitado.

Planos e desejos honestos também: que todas as feridas possam ser curadas; as obras mal construídas, abandonadas; os prazeres, intensamente vividos; os saberes, plenamente absorvidos; as lágrimas, inteiramente escorridas.
E assim o tempo passa, trazendo o dia seguinte, que pode acabar sendo o hoje contaminado pelos devaneios reincidentes do amanhã. Dito isso, tenho que concordar com a afirmação supostamente atribuída a Charles Chaplin: "o importante é não fazer do amanhã o sinônimo de nunca".
Guimarães Rosa até nos deu a pista/fôlego: “a vida é assim: esquenta, esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta, o que ela quer da   gente é coragem”. Coragem para enfrentar os quilômetros adiante e convencer os guardiões da entrada; bravura pra  ir lapidando essa tal liberdade do amanhã, essa amplitude do “passarinho voando com gaiola e tudo”.
Afinal, resgatando Svetlana Alexievich, em discurso por ocasião do prêmio Nobel de literatura de 2015: “a liberdade não é um feriado, como antes imaginávamos. Ela é uma estrada. Uma longa estrada”.
Sigo refletindo daqui, soando pretensamente falso com a ideia final desse post, já que cito um texto bíblico, do famoso e pouco seguido Sermão da Montanha: “não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6-34).
Intensidade para o hoje e para os amanhãs vindouros. Um brinde!

CÉSAR GANDHI
Brasiliense por resistência. Pai de uma menina-flor. Mestrando em Ciências Sociais no ICS/CEPPAC/UnB. Considera o mundo um lugar rochoso, mas não se cansa de ir derramando água quente por onde passa, na tentativa de torná-lo mais maleável.
(In Obvious magazine)


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Baudelaire

                                         "Preparei o meu olhar perverso,
                              masculino, para uma moça bonita
                              que vinha vindo.
                              Quando ela estava mais perto,
                              um cisco entrou no meu olho.
                              Era uma santa! "

                                                                                            Charles Baudelaire

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Afastamento

Eras casto e puro
sem orgulho nem arroubos 

Eras um vento bom
roçando nossas faces carentes
de frescor e manhãs.

Foi quando num dia assim
sem anunciação
te transformaste num 
silêncio
numa ausência sentida.

Deixaste-nos  na orfandade
olhares infantis
em preces e súplicas
pela tua volta.

E nessa espera 
de medo e solidão
desejo de amigo e companhia 
suplicamos :
Volte para nós!

                        Aureliano




sábado, 23 de abril de 2016

                                                            
                                                                Ainda bem que passou...

                                                          Ainda bem que passou
                                                          aquela medida de tristeza.
                                                          Coisa sem jeito de desgrudar da gente,
                                                          mas que por força e insistência
                                                          teima em ficar como um visgo,
                                                          preso , colado, pegajoso.
                                                          Quando passa,
                                                          a alma fica leve,
                                                          se ilumina
                                                          de modo a só achar
                                                          segurança e companhia.


                                                                                                     Aureliano

                                                         

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Para ler e se encantar



KAFKA E A BONECA VIAJANTE

O livro Kafka e a boneca viajante de Jordi Sierra i Fabra retrata a história de Franz Kafka um escritor que encontra uma menina no parque da cidade de Berlim, esta menina estava chorando e triste perdido a sua boneca (Brígida), Franz começa a conversar com a menina e descobre que pode ajuda-la a consolar-se, então vai até a vizinha que tem uma filha e começa a conversar com a filha da vizinha, pedindo informação de como é ter uma boneca, e após isso vai para sua casa.
                Na casa dele, ele começa a escrever a carta que inventara ser de Brígida para poder consolar a menina Elsi. No dia seguinte ele vai até o parque no mesmo banco de praça e começa a ler a carta para a menina, ela pareceu estar mais alegre por saber que Brígida estava bem no fim da leitura ele entrega a carta para Elsi e ambos vão para suas casas alegres um por saber que a menina estava bem.
                 No dia seguinte ele teria que fazer Brígida viajar para outros lugares, desta vez a incrível Brígida foi para Paris a cidade luz. Na carta ela conta ter ido a torre Eiffel, no museu do Louvre e outros lugares mais.
                E agora a pequena boneca viajante iria para onde? Ela viajou para Veneza, mas não contaria a história de Veneza com tanto entusiasmo pois era uma cidade mais séria não era muito para se divertir, é mais para se ir visitar mesmo.
                Mas Franz estava começando a ficar preocupado, porque até quando Brígida ficaria viajando, um dia teria que acabar, sempre tem um fim da linha para alguém mesmo que esse alguém seja uma boneca.
                E ele estava se matando, indo em lojas de colecionadores comprar os selos, retirando os selos das próprias cartas dele, e tendo que leva-lá até Elsi no parque da cidade.
                Brígida então escreveu a sua penúltima carta para Elsi, que falava que ela estava muito feliz na Tanzânia e que ela tinha se casado com Gustavo o namorado que tinha conhecido na Tanzânia.
                As coisas estavam muito difíceis para Kafka, mesmo ele estando feliz em escrever as cartas para Elsi, mas estava difícil lidar com a sua doença e ele estava com medo de morrer cedo.
                 Na última carta de Brígida para Elsi, Brígida diz que é para Elsi viver a sua vida para ser feliz e a agradece por Elsi ter ensinado a Brígida tudo o que ela sabe hoje. E mandou de presente para Elsi uma linda boneca de porcelana, com os cabelos loiros, olhos de cor bem forte e que se chamava Dora.

 Jordi Sierra I Fabra

Jordi Sierra i Fabra (Barcelona, ​​26 jul 1947) é um escritor espanhol, apontou para a variedade de questões e registros em sua narrativa, abordando todos os gêneros, e porque reflete como nenhum outro castelhano falado em áreas de Catalão. Nos últimos 25 anos suas obras de literatura infantil foram publicados na Espanha e América Latina. Também tem sido um estudioso notável do rock desde o final dos anos 60. Foi fundador e / ou diretor de várias revistas, The Musical Grande, Disco Express, Popular 1, Revista Top, Pop Extra ou Super, o último, e em 1977, quando a música tinha parado pela literatura. Autor precoce, começou a escrever aos 8 anos e 12 anos, escreveu sua primeira novela longa, de 500 páginas. Em 1970 abandonou os estudos e trabalhar para profissionalizar totalmente e comentarista musical. Em 2009 já passou dos 9 milhões de livros vendidos em Espanha. Ele tem um extenso trabalho em 2010 atinge 400 livros e ganhou diversos prêmios por seu trabalho ou em castelhano ou catalão, e ambos os lados do Atlântico (Literatura Infantil Nacional, Ateneo de Sevilla, Villa de Bilbao, Vaixell Vapor, Grande Angular, Edebé, Coluna Jove, Joaquim Ruyra, CCEI, Na beira do vento, entre muitos outros). Muitos de seus romances foram trazidos para o teatro e um pouco de televisão. Em 2006 e 2010, foi nomeado para o Prêmio Nobel de literatura para jovens Prêmio Hans Christian Andersen, representando a Espanha. Viajante inveterado, seu trabalho muitas vezes baseia-se em suas próprias experiências em toda parte. Em 2004 ele estabeleceu a Fundação Jordi Sierra i Fabra, em Barcelona, ​​destinado a promover a escrita criativa entre os jovens em espanhol. Cada ano reúne um prêmio literário para crianças menores de 18 anos. Levou o mesmo 2004 Oficina Livre Fundação Jordi Sierra i Fabra para a América Latina com sede em Medellín, Colômbia, atendendo mais de cem mil crianças e jovens a cada ano.



Imagem : https://br.search.yahoo.com/search?p=imagem+de+bonecas+de+pano+passo&ei=UTF-8&fr=chr-greentree_ff&ilc=12&type=435371

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Ano Novo .Toda liberdade de ser!



          "Todo novo ano que inicia é um convite a uma releitura de si mesmo. Você já passou pelos mesmos janeiros e fevereiros e marços que aí vêm, os mesmos carnavais e páscoas, as mesmas mordidas do Leão, as mesmas estações, o mesmo do mesmo. Se daqui para frente queremos extrair alguma novidade de fato, ela virá da nossa maneira de encarar a vida, de desfrutá-la com mais proveito.
         Então, que se oferende flores a Iemanjá, já que rituais de otimismo e fé não fazem mal a ninguém, e que se oferte abraços e bons votos aos amigos, já que a alegria é uma energia que vale a pena ser trocada, e que a gente doe sempre o que temos de melhor, aquilo que nos movimenta – e não o que nos trava. Que em 2016 consigamos romper com nossos receios sobre o que os outros irão pensar de nós, com o que não nos traz retorno, com o que não nos insere no universo de uma forma mais efetiva e bonita. Chega de cultuar impedimentos. Façamos, para variar, oferendas ao risco."


                                                                                Martha Medeiros