Histórias da unha do dedão do pé do fim do mundo ...
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
Poema de E.E. Cummings
Chamar a Si Todo o Céu com um
Sorriso
que o meu coração esteja sempre
aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor
do que conhecer
e se os homens não as ouvem
estão velhos
que o meu pensamento caminhe
pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu
me engane
pois sempre que os homens têm
razão não são jovens
e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que
verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco
que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um
sorriso
E. E. Cummings, in
“livrodepoemas”
Tradução de Cecília Rego
Pinheiro
terça-feira, 8 de outubro de 2019
O poeta Ivan Junqueira
Poemas de
Ivan Junqueira
Tristeza
Esta noite eu durmo
de tristeza.
(O sono que eu tinha
morreu ontem
queimado pelo fogo
de meu bem.)
O que há em mim é só
tristeza,
uma tristeza úmida,
que se infiltra
pelas paredes de meu
corpo
e depois fica
pingando devagar
como lágrima de olho
escondido.
(Ali, no canto apagado da sala,
meu sorriso é apenas
um brinquedo
que a mãozinha da
criança quebrou.)
E o resto é mesmo tristeza.
(de Os Mortos)
Elegia Íntima
Minha mãe chorando
no fundo da noite
rachou o silêncio do
quarto adormecido.
Meu pai olhava o
escuro e não dizia nada,
Um relógio preto
gotejava barulho.
Lá fora o vento
lambia as espáduas do céu.
Minha mãe chorando
no fundo da noite
Apunhalou o sono de
Deus.
(idem)
Madrigal
Azul e pontual,
o céu acordou:
cada aurora
em seu horizonte.
Mas a pergunta,
Como um gládio
em riste, cravou
seu aço no vazio
— e lá, imóvel,
ficou
esperando a resposta
que não raiou.
(idem)
Hoje
A sensação oca de que tudo acabou
o pânico impresso na
face dos nervos
o solitário inverno
da carne
a lágrima, a doce
lágrima impossível...
e a chuva soluçando
devagar
sobre o esqueleto
tortuoso das árvores
(idem)
Haicai
Na gaiola jaz
o pássaro
sem espaço
(de Opus
Descontínuo)
O Poema
Que será o poema,
essa estranha trama
de penumbra e flama
que a boca blasfema?
Que será, se há lama
no que escreve a
pena
ou lhe aflora à cena
o excesso de um
drama?
Que será o poema:
uma voz que clama?
Uma luz que emana?
Ou a dor que algema?
(de A Sagração dos
Ossos)
Talvez o vento saiba
Talvez o vento saiba
dos meus passos,
das sendas que os
meus pés já não abordam,
das ondas cujas
cristas não transbordam
senão o sal que
escorre dos meus braços.
As sereias que ouvi
não mais acordam
à cálida pressão dos
meus abraços,
e o que a infância
teceu entre sargaços
as agulhas do tempo
já não bordam.
Só vejo sobre a
areia vagos traços
de tudo o que meus
olhos mal recordam
e os dentes, por
inúteis, não concordam
sequer em mastigar
como bagaços.
Talvez se lembre o
vento desses laços
que a dura mão de
Deus fez em pedaços.
Ivan Junqueira já foi chamado, com inteira justiça, de “o poeta do pensamento”. Carioca, nascido em 3 de novembro de 1934, Ivan Nóbrega Junqueira é também um premiado ensaísta (O encantador de serpentes, 1987; O signo e a sibila, 1993; O Fio de Dédalo, 1998), crítico literário de incomum dignidade humanística e tradutor de T.S.Eliot, Marguerite Yourcenar, Marcel Proust, Dylan Thomas e Charles Baudelaire, de quem verteu para nosso idioma o inigualável poema As Flores do Mal.
Sua extensa obra poética (de Os Mortos, 1964, a Poemas Reunidos, 1999), preocupada com questões políticas e metafísicas, abriu-lhe as portas da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 37, patroneada pelo poeta inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, e de que foi Presidente no biênio 2003-05.
JUNQUEIRA, Ivan. Essa música 2009-2013. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. 95 p. 14x21? cm “Orelha” do livro por Marco Lucchesi. ISBN 978-85-325-2924-4 “ Ivan Junqueira “ Ex. bibl. Antonio Miranda
sábado, 29 de junho de 2019
Um poema de Brecht
A exceção e a regra
Nós vos pedimos com
insistência:
Nunca digam – Isso é
natural.
Diante dos
acontecimentos de cada dia.
Numa época em que
reina a confusão,
Em que corre o
sangue,
Em que se ordena a
desordem,
Em que o arbitrário
tem força de lei,
Em que a humanidade
se desumaniza…
Não digam nunca:
Isso é natural.
A fim de que nada
passe por ser imutável.
Sob o familiar,
descubram o insólito.
Sob o cotidiano,
desvelem o inexplicável.
Que tudo que seja
dito ser habitual
Cause inquietação.
Na regra é preciso
descobrir o abuso.
E sempre que o abuso
for encontrado,
É preciso encontrar
o remédio.
Vocês, aprendam a
ver, em lugar de olhar bobamente.
É preciso agir em
vez de discutir.
Aí está o que uma
vez conseguiu dominar o mundo.
Os povos acabaram
vencendo.
Mas não cantem
vitória antes do tempo.
Ainda está fecundo o
ventre de onde surgiu a coisa imunda.
BERTOLD BRECHT
sábado, 25 de maio de 2019
A Menininha e a Flor
A Menininha e a Flor
Na
solidão de um jardim.
Cismava
tristemente
Sem
nenhuma companhia.
Destino
estranho este
Ser
flor num jardim assim.
Todo
dia aviva sua cor
Para
ver se alguém a notava.
Até
que um dia,
Uma
linda menininha
Passeava
por ali.
Viu-a,
notou-lhe a beleza.
Então
, ao tocá-la
Com
suas mãozinhas singelas,
E
repleto o jardim,
Outras crianças surgiram.
Da
mágica infantil,
A
flor cheia de importância,
Figurava
entre todas
A
mais bela.
Plena
de agradecimentos
Sentiu
no olhar das crianças
Alegria
sem fim.
Num
êxtase deixou-se apanhar
Pela
menininha
Que
a levou para casa.
No meio do caminho,
Menininha
e flor,
Envolvidas
em zelo e carinho
Fundiram-se
Em
bela mulher.
terça-feira, 9 de abril de 2019
Oceano Perpétuo
Vi no http://educa-tube.blogspot.com
Oceano perpétuo: animação revela
que movimento dos oceanos lembra quadros de Van Gogh
O vídeo acima,
Oceano perpétuo, descobri no Facebook, na página Nota Terapia, que destaca
animação divulgada pela a agência espacial norte-americana (NASA), em que o
movimento dos oceanos lembra, e muito, aos quadros do pintor holandês Vincent
Van Gogh. Por sinal, tudo que Vincent produziu de arte é genial e muitas
postagens nesse blog destacam e comprovam isso.
O vídeo foi
apresentado na página The Earth History (A História da Terra) e, confirme o
Nota Terapia, "(...) foi produzido pela JPL e pelo MIT como parte do
modelo de circulação global criado por estas instituições, com satélites e
medições dos padrões das superfícies oceânicas. A ideia é possibilitar a
visualização as correntes em larga e pequena escalas que movimentam nossos
oceanos. A comparação com Van Gogh, que poderia parecer forçada, nos dá uma
pista interessante, não só para entender o movimento dos mares, mas da potência
da arte: ao contrário do que se pensa o oceano não se movimento em grandes
blocos, ou frentes, mas em milhões de pequenos movimentos circulares que se
organizam e reorganizam entre si".
A matéria fala
em "desarmonia harmônica" que é a sensação que a obra de Van Gogh nos
traz e que os oceanos trazem em seus movimentos também. A arte imita a vida que
imita a arte. A arte está em toda parte e a Natureza é a artista primordial e
autêntica. Nós, humanos, somos apenas seus copiadores.
Uma série de
figuras geométricas e harmônicas estão nas obras de Vincent e nos oceanos do
mundo. Algo genial. Tal qual a proporção áurea descoberta por Pitágoras e a
matemática em toda parte.
Fonte:
http://educa-tube.blogspot.com/2019/04/oceano-perpetuo-animacao-revela-que.html? -
José Antonio Klaes Roig
terça-feira, 2 de abril de 2019
O Beija-flor
O beija-flor
beijou
a flor.
Num ato
e reflexo
a flor,
sentiu:
bico suave ,
sutil,
pontiagudamente,
tocar-lhe
no aveludado
Doce.
Ao final:
Flor
Cor
Beija-flor
Amor.
Aureliano
Ancorei...
Ancorei o olhar numa estrela
depois
de percorrer
inúmeras
siderações.
Agora
contemplo o espaço,
longinquamente...
Aposentei
as viagens.
Dei para sonhar
Com
o indefinido das coisas,
buscar no saudável
da memória,
alentos
e amenidades .
Aureliano
terça-feira, 19 de março de 2019
Ainda bem...
Ainda bem que deu tempo
Aquele
olhar encantou-o sobremaneira. Sentiu também uma correspondência. Um querer
igual, desejo de chegar perto, de estar
ao lado. Contemplação e aproximação.
Não,
melhor não, não era o momento. Coração a fraquejar e entregar-se assim primeira
vez, não. Coração aberto não dava, não
podia, fugia ao seu estilo.
Passou
a simular. Era uma indiferença dolorida que a si impunha obrigatória. E olhá-la
assim indiferente , que contrassenso, que forma estúpida de se conter.
Nas
conversas, confundia-se em argumentos. As palavras pareciam tão estéreis. Não
podia, por muito tempo, enganar, levar a termo aquela incontida resolução de
não amar, de não querer o amor. Como se coração tivesse querer...
Os
dias passavam-se. E foi numa tarde que a viu. Estava entretida em pensamentos.
Despertou-a, cumprimentando-a timidamente. Ela abriu-lhe um sorriso, brilho no
olhar, alegria de festa, felicidade a bailar, revelando evidências. Mas só ele
não queria enxergar, estava ainda
preso à resistência, num esforço
hercúleo para continuar insensível.
Conversaram
assuntos vãos. Ele era quem os direcionava. Que besteira essa de homem ser
durão, coisa antiga , enraizada
eternamente nas gerações.
Olhou-a
no profundo então, percebeu-a novamente ensimesmada. Não dava mais. Era tão
linda, lirismo puro, como numa tela de Chagal. Leveza e flutuação.
Assim,
num repente , baixou a guarda, o coração foi imperativo e, prontamente ,
irresistivelmente a beijou. Foi correspondido. Toda resistência caiu por terra.
Era definitivamente o amor liberto das amarras de um fingimento, puro orgulho,
sem sentido, coisa besta mesmo.
Ainda bem que deu tempo, pois o amor não
espera muito não, logo se evade rumo ao horizonte das ilusões perdidas.
Aureliano
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