Êxtase
Não sofras mais, amor, não digas nada!
Vem comigo; eu te levo. A noite é densa
e agora a voz do mar ficou suspensa,
dolorida, vibrante, apaixonada!
Não tarda muito a luz da madrugada...
Vem comigo! Não penses! Não se pensa!
Vem à conquista da aventura imensa,
vê, como eu vou, feliz e deslumbrada!
Um grande sonho me enlouquece e invade!
Vem procurar comigo a Eternidade
esse país tão vago, tão distante...
Vem, que eu busco o palácio da quimera
lá, onde seja eterna a primavera,
e a voz divina das estrelas cante!
(Virgínia Victorino)
Apaixonadamente
Fui compondo estes versos, absorvida
no ritmo da minh´alma, sempre ansiosa,
para neles ficar, triste ou gloriosa,
uma existência inteira resumida.
Assim os fiz, pela paixão vencida,
— e, porque fui vencida, vitoriosa... —
nesta febre constante de ambiciosa,
mágoa e prazer de toda a minha vida!
Cada verso é uma pedra mais que eu ponho
Na catedral imensa do meu sonho,
... ria embora do Sonho toda a gente!
A vida humana, seja ou não tranquila,
profunda ou não, — só poderá senti-la
quem a sentir apaixonadamente.
(Virgínia Victorino)
Virgínia Victorino nasceu em Lisboa em 1895. Forma junto com Florbela
Espanca e Maria Helena a trindade da
poesia portuguesa contemporânea. Perfeita na forma simples e comunicativa linguagem, despida de quaisquer artificialismos,a poesia de Virgínia
Victorino vai direto ao espírito e ao coração. Obra: Namorados,
Apaixonadamente e Renúncia, livros de sonetos. Comentários de J.G.de Araújo Jorge, no
livro Os mais belos sonetos que o amor inspirou.
Imagens - https://www.google.com.br/search?q=Imagens+de+Virgínia+Victorino&biw
Os dois sonetos são simplesmente maravilhoso. Um abraço
ResponderExcluirConfesso que nao conhecia a obra desta poetisa, muito obrigado por me dar a conhecer uma nova poética!!!
ResponderExcluirkandandu
Virgínia Vitorino nasceu em 13 de Agosto de 1895 e não em 1897.
ResponderExcluirLuisa, obrigado pela visita e também pela observação .Já corrigi a data.
ExcluirAureliano.
Com muito gosto coloco mais um soneto de Virgínia Vitorino publicado em 1918
ResponderExcluirNem sei porque choro ao pé de ti
Agora que o meu pranto aborreceste
Choro, talvez, o amor que me tiveste,
Choro o teu coração que já perdi.
O teu rosto era triste; agora ri
Contente deste mal que me fizeste.
O que fui para ti, tudo esqueceste
Só eu tudo o que foste não esqueci.
Porque te quero ainda, meu amor,
Se tu não compreendes este horror?
Porque me prende tanto essa altivez?
Olha-me bem; se as lágrimas caídas
Ao pé de ti são poucas, são mentidas,
Crê ao menos naquelas que não vês.
Outro lindo soneto . Gostei muito.
ResponderExcluirAureliano.