domingo, 2 de setembro de 2012

e.e. cummings




nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas
                                                                         
                                                                                                             e.e. cummings

                                                         ( tradução: Augusto de Campos )

carrego o teu coração comigo

carrego o teu coração comigo(carrego-o em
meu coração)nunca estou sem ele(onde
eu vou tu vais, querida; e o que é feito
só por mim és tu que fazes, meu amor)
eu não temo
nenhum destino(tu és o meu destino, meu doce)eu não quero
outro mundo (pela tua beleza ser o meu mundo, minha verdade)
e tu és seja o que for que a lua signifique
e o que quer que o sol cante sempre és tu

aqui está o segredo mais profundo que ninguém sabe
(a raíz da raíz e o botão do botão
e o céu do céu da árvore chamada vida; a qual cresce
mais alto do que a alma espera ou a mente esconde)
e este é o milagre que mantém as estrelas separadas
carrego o teu coração( carrego-o em meu coração)

                                                                                         e.e. cummings

                                                 (Tradução de J.T.Parreira)

Edward Estlin Cummings, usualmente abreviado como e. e. cummings, em minúsculas, como o poeta assinava e publicava,(Cambridge, Massachusetts, 14 de outubro de 1894 — North Conway, Nova Hampshire, 3 de setembro de 1962) foi poeta, pintor,ensaísta e dramaturgo americano. Tendo sido, principalmente, poeta, é considerado por Augusto de Campos um dos principais inovadores da linguagem da poesia e da literatura no século XX.
Falecido aos 67 anos de idade, e. e. cummings pertence à estirpe dos inventores da poesia moderna, ao rol daqueles poucos que realmente transformaram a linguagem poética de nosso tempo, em sintonia com o prospecto de uma civilização cujos crescentes progressos científicos vão abolindo vertiginosamente as fronteira entre a realidade e a ficção.




3 comentários:

  1. Maravilhosos poemas, mas confesso que o segundo me encantou por demais...que fascinante o modo dele escrever, vai tão além das palavras...
    Boa semana amigo,beijos,
    Valéria

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  2. Carrego o teu coração comigo- Lindo e comovente!Agradeço tua visita,Bom começo de semana,abraços.

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  3. Aureliano, passei para agradecer sua visita.
    Lindos poemas, como sempre.

    Um abraço

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