segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Imagem:  E. Munch -  Melancolia


"(…) O sofrimento acompanha sempre uma inteligência elevada e um coração profundo. Os homens verdadeiramente grandes devem, parece-me, experimentar uma grande tristeza – acrescentou Raskólnikov.(…)Não foi uma criatura humana que matei, foi um princípio! [pensou Raskólnikov]. Efetivamente matei o princípio, mas não soube passar por cima do obstáculo, fiquei do lado de cá… Não soube senão matar… E ainda assim parece que não fui muito bem… […] Eu só tenho uma vida, não posso esperar a 'felicidade universal'. Quero viver para mim mesmo, de outra maneira não vale a pena existir. […] Visto que só viva uma vez, quero a minha parte de felicidade imediatamente (...)."
                                                      Dostoiévsky em Crime e Castigo

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Metamorfoses



Imagem : Fabiana Guimarães



Quando pássaro,
voo além...
horizontes, montanhas, florestas.
Só não voo sobre o mar,
grande mar azul ...
medo de falta de ar,
medo de desvoar,
cair, mergulhar, indefinidamente,
no profundo sem fim.








Quando borboleta,
Imagem: Fabiana Guimarães
voo zen,
vespertina, azul,
rompendo o outro azul
que é o céu.
Pairo  sobre os bosques e jardins.
Visito flores, árvores ,
colorindo junto com elas
as paisagens.
Não voo sobre o mar,
não  de  medo,
pois minhas asas leves e frágeis
não alcançam
a distância oceânica.







Imagem : Pavel  Rubinskiy (1999)

Quando menino,
também  voo.
Deslizo  no ar 
feito  vento,
por rotas  e caminhos
de novidades.
Ando ágil, serelepe,
olhar encantado
de sonhos  incontáveis,
moleque de aventuras ,
num mundo distante
repleto de seres amáveis.
Menino errante ,
brinco no mar,
ponho-me livre a navegar. 
         



Quando homem,
não voo, nem me encanto.
Tudo  é realidade emergindo
num viver  de compromissos.
Passa-se o tempo veloz,
e tenho pressa.
Repentinamente ,
num momento
ou noutro
a vida insinuando
conflitos.
Necessário  lutar, convencer.
conquistar os dias.


Contudo,
quando homem, sozinho,
impotente e frágil,
convoco o pássaro,
a borboleta e o menino
e juntos vamos,
todos num só.
Tudo se recompõe
como numa mágica,
um encantamento  cujo brilho
inextinguível
fortalece-me, energiza-me,
faz-me ser
leveza e paz.

                               Aureliano