Imagem: Katia Huidobro - Marais
O AMOR
Um dia,
quem sabe,
Ela que
também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como
agora está no retrato sobre a mesa.
Ela é tão
bela, que por certo, hão de ressuscitá-la
Vosso
Trigésimo século ultrapassará o exame de mil nadas,
que
dilaceravam o coração.
Então, de
todo amor não terminado
seremos
pagos em enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que
seja porque te esperava
como um
poeta,
repelindo o
absurdo cotidiano!
Ressuscita-me,
nem que
seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver
até o fim que me cabe!
Para que o
amor não seja mais escravos de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que,
maldizendo os leitos,
saltando
dos coxins,
o amor se
vá pelo universo inteiro.
Para que o
dia,
que o
sofrimento degrada,
não vos
seja chorado, mendigado.
E que ao
primeiro apelo:
-
Camaradas!
Atenta se
volte a terra inteira.
Para viver
livre dos
nichos das casas.
Para que
doravante
a família
seja
o pai,
pelo menos
o universo;
a mãe,
pelo menos
a terra.
AMO
Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha.
Tradução de E. Carrera Guerra
Do Livro "Maiakóvski - Antologia Poética"/Editora
Max Limonad,1987
Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (em russo: Влади́мир Влади́мирович
Маяко́вский; Bagdadi, 7 de julho (calendário juliano) / 19 de julho (calendário
gregoriano) de 1893 – Moscou, 14 de abril de 1930). O próprio Maiakóvski
informa:"Nascido a 7 de julho de 1894 ou 1893. A opinião de minha mãe não
coincide com os documentos de meu pai. Antes, com certeza, não nasci".Foi
um poeta, dramaturgo e teórico russo, frequentemente citado como um dos maiores
poetas do século XX, ao lado de Ezra Pound e T.S. Eliot, bem como "o maior
poeta do futurismo".
(Fonte Wikipédia)